No verão, o clima solar deixa no nosso imaginário corpos de homens e mulheres em movimentos sexy nas praias, nas praças e nos clubes, com disposição e roupas leves e alegres. Inconscientemente, até pensamos que esse contexto é mais favorável à prática sexual e que libido e tesão estão à flor da pele. Por outro lado, no inverno acontece o contrário: a sensação é gélida, de certa preguiça, e o que vemos são casais, sem disfarçar o marasmo, debaixo do cobertor vendo televisão numa sexta-feira à noite.

Para começar, tire da sua cabeça essa última cena-clichê. Inverno e sexo podem – e devem – estar de mãos dadas, embora seja inegável que o frio pode, sim, inibir o apetite sexual. Estudos indicam que a libido pode flutuar ao longo do ano. No frio, é possível que homens e mulheres apresentem diminuição da testosterona – vale lembrar que, nas mulheres, os níveis do hormônio são muito menores –, responsável por, entre outras funções, regular a libido.

Psicólogo e especialista em terapia sexual, Rodrigo Torres avalia que, ao falarmos sobre sexualidade, é sempre importante levar em conta que este é um assunto cuja abordagem deve ser multifatorial. Além disso, escapar do senso comum e de pensamentos cristalizados, não necessariamente condizentes com a realidade, só traz benefícios e qualifica o debate.

“A gente não pode afirmar que só a diminuição da produção (da testosterona) em alguns homens e mulheres no inverno vai diminuir o apetite sexual. Essas generalizações são sempre delicadas. A libido é influenciada por múltiplos fatores, não só fatores fisiológicos, mas emocionais, sociais, culturais. Temos que ver até de qual inverno estamos falando – se é um inverno sazonal ou se estamos no Alasca, se há estações marcadas ou não”, pondera Torres.

O sexólogo argumenta que a noção de que frio e sexo não combinam tem muito mais a ver com uma ideia limitada que temos a respeito das relações íntimas. A biologia, segundo ele, não é o único critério, e questões como a liberdade de comunicação do casal devem ser levadas em conta.

Rodrigo Torres recorre a uma avaliação mais comportamental: “A gente deveria mudar a ideia de um sexo genitalizado para um sexo mais corporal, que seja possível fazer embaixo das cobertas, sem expor muito o corpo (ao frio), mas ao mesmo tempo usando tato, sensações. Isso pode aproximar as pessoas, como também melhorar a libido em qualquer estação do ano”.

Outro mito que paira por aí é que o frio é especialmente perturbador para os homens, pois o pênis, no clima invernal, diminui de tamanho. De fato, os vasos sanguíneos se contraem nas temperaturas mais baixas, mas o órgão sexual masculino não perde medida ou diâmetro, e as funções sexuais do organismo não são afetadas. “Na realidade, o pênis não muda de tamanho, ele apenas se retrai para dentro do corpo. Ele se encolhe por um mecanismo de defesa do corpo: quanto menos área estiver exposta, mais ele consegue manter a temperatura corporal”, explica Rodrigo Torres.

A psicóloga e sexóloga Théa Murta ite que fazer sexo no inverno pode ser desconfortável para alguns casais, mas, assim como Torres, a especialista diz que devemos ter uma leitura do sexo para além da relação genitalizada. Outro ponto abordado por Théa é o desejo sexual responsivo, quando a pessoa precisa receber algum estímulo para sentir atração por outra: “Nosso desejo é muito mais responsivo do que espontâneo, é importante lembrar isso. A gente precisa alimentá-lo no dia a dia. Se estamos pensando em inverno, é essencial que o casal tente se conectar também nesse período”.

Ampliar a intimidade e o repertório sexual e pensar o sexo além da penetração é sempre bom. Massagens, troca de carinho debaixo das cobertas, muitos beijos e carinhos permitem a troca e esquentam o clima e o corpo – literalmente. “À medida que a gente vai se excitando, nosso corpo se aquece, isso é muito natural. Essa interação na rotina, de beijar mais durante o dia, quando for possível, de fazer carinho, também alimenta o nosso desejo sexual pelo outro”, afirma Théa Murta.

Cama e cobertores também podem ser cenários para uma boa transa. Vale assistir a filmes e séries que ajudem a alimentar o desejo, fazendo com que o casal já entre nesse repertório erótico. “Isso também pode ajudar a entrar no clima e a iniciar aquela troca entre eles”, comenta a sexóloga.

Aqueça o sexo nesse inverno: algumas dicas para você escapar do frio com seu parceiro 

Chama acesa: deixe que a vela derreta, então jogue, delicadamente, na sua mão e depois aplique a cera no corpo do seu parceiro. Há boas opções no mercado de velas específicas para tal brincadeira 

Banho quente: que tal sair da cama e levar o sexo para uma ducha quentinha? 

Brinquedinhos: Vibradores com autoaquecimento funcionam muito bem para a penetração, mas também podem ser ótimos para massagear a pele do parceiro 

Sai, rinite!: No inverno, rinite e sinusite podem atacar quem costuma ser mais sensível a essas inflamações e inibir o desejo de sexo. A dica é reforçar a imunidade com boa alimentação rica em verduras, legumes e vitamina C 

Lubrifique-se: Géis e lubrificantes estimulam a excitação, aumentam a vascularização e a temperatura nos locais aplicados, trazendo também uma sensação de calor imediata 

Sexo e comida: Chocolate, pimenta, mamão, morango, amendoim, mel e temperos e condimentos – alho, gengibre e manjericão – são alguns alimentos que contêm substâncias que instigam os sentidos e atuam na produção de hormônios ligados ao sexo.