O Brasil é o país que menos utiliza o sistema ferroviário para o transporte de cargas, em relação a Rússia, Canadá, Austrália, Estados Unidos e China, que possuem dimensões territoriais semelhantes, segundo o boletim “A retomada dos investimentos ferroviários para aumentar a eficiência da matriz de transportes”, do Observatório Nacional de Transporte e Logística (ONTL).

Curiosamente, o transporte ferroviário é o que apresenta o menor custo para o escoamento de produção. Para se ter uma ideia, para transportar uma tonelada a uma distância de mil quilômetros, o custo ferroviário é de R$ 39,42, enquanto o rodoviário chega a R$ 226,18. 

O governo federal aprovou o Marco Legal das Ferrovias, em 2021, possibilitando a construção e a modernização de linhas férreas. Com 39 concessões já realizadas, estão previstos investimentos que ultraam a marca de R$ 170 bilhões no setor, segundo a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).

Estima-se que, ainda em 2023, cerca de 12 mil quilômetros de trilhos sejam construídos no país. Esses investimentos visam promover a eficiência logística de transporte de carga, fortalecer a malha ferroviária e impulsionar setores-chave da economia, além de reduzir a dependência do transporte rodoviário. 

Com o impulsionamento do Marco Legal das Ferrovias, houve estímulo do crescimento econômico regional, geração de empregos e aumento da arrecadação de impostos, beneficiando comunidades e contribuindo para a redução das desigualdades regionais. A legislação também prevê a criação de terminais ferroviários de uso privado, proporcionando mais uma opção de escoamento de produção.

No Brasil, que tem dimensões continentais, existem cerca de cinco grandes empresas construtoras de linhas férreas, entre elas a Construtora Trindade (Cotrin), que já executou mais de cem projetos, construiu e recuperou mais de 2.000 km de ferrovias. A Ferrovia Norte-Sul, por exemplo, é um projeto estratégico que integra diferentes regiões do Brasil, conectando o Norte e o Nordeste com o Centro-Oeste e o Sudeste, além de possibilitar a ligação com portos e aeroportos. Sob concessão da Rumo Logística e realizada pela Cotrin, o último trecho da ferrovia foi concluído, fomentando o escoamento da produção agrícola da região. 

A Ferrovia Norte-Sul foi construída com alta tecnologia e emprego do que há de mais moderno no que tange linhas férreas, oferecendo maior segurança operacional, maior capacidade de carga e mais velocidade dos trens. A Ferrovia Norte-Sul trouxe avanços significativos, graças à adoção de dormentes de concreto e uma bitola mais larga. Com as melhorias, foi possível entregar uma via com capacidade para atingir uma velocidade média de até 60 km/h, superando em mais de 50% o volume de carga transportado pelas concessionárias. 

Os investimentos previstos a partir do Marco Legal das Ferrovias nos permite prever amplo crescimento da malha ferroviária, que poderá contar com a simplificação de processos e maior competitividade. Será possível presenciar maior desenvolvimento econômico, melhoria da infraestrutura logística e redução dos impactos ambientais. Com os avanços previstos para os próximos anos, será possível acreditar que teremos no país uma malha ferroviária tão eficiente e reconhecida quanto às dos países europeus.

Henrique Trindade é diretor corporativo da Cotrin Construtora Trindade